LINHAS E ENTRELINHAS

Linhas azuis, linhas paralelas,

simetricamente guardais

as flores em palavras brandas,

os risos em sequências coloridas,

as dores em ziguezagues cruéis.

Por tantas vezes trilhei vossos caminhos,

e do velho, e do novo

e do triste ou patético

entrelaçar de idéias,

fostes sempre o caminho a seguir,

a trilha limpa e acolhedora de meus devaneios.

Linhas azuis que serenamente vos postais

à espera de que minha mão desenhe em vós

o traçado de minh'alma:

ora um tormento a me dilacerar as carnes,

ora uma explosão de amor, ou tédio,

ou fúria incontrolada.

Linhas tão tênues

e no entanto aguardais,

como o lago manso aguarda o suicida.

Não vos darei todo o meu sangue

nem todas as minhas entranhas.

Serei cautelosa...

Não vos darei todas as minhas verdades

nem minhas incertezas mais profundas.

Linhas azuis, por que estais sempre a me tentar

A me ofertar vosso leito confortante?

E eu qual mariposa bêbada

diante dessa luz translúcida,

beberei novamente desse veneno

e sobre as águas límpidas vomitarei.

Não sobrará sequer um ai,

ao teu fascínio não resistirei.

Linhas azuis que como a lua aguarda a noite

me aguardais,

que como os pássaros tendes sempre o rumo certo,

a vós sem luta muita não me entregarei,

a vós sem esse heróico e inútil freio

não caminharei.

Mas é tão doce nesse manso lago deslizar,

do coração tantas palavras escorrendo,

pro vosso leito e em folhas brancas eu desenho,

dizendo certo por caminhos tortuosos,

dizendo mais talvez nas brancas linhas...

Se é meu destino em vós deixar palavras,

meu ser inteiro se alvoroça e treme

qual revoar de insetos na clareira.

Assim de vós eu sei, já sou escrava,

vosso regaço é meu repouso e meu conforto,

temos agora acordo tácito firmado:

mergulharei pra sempre nessas águas calmas

e encontrarei em vós o norte desta estrada.

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 27/06/2006
Reeditado em 14/04/2008
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