Essa noite não tem poesia
Tem um corpo cansado jogado no leito
Essa noite não tem inspiração
Tem a mente atordoada olhando o dia
Tem esse asco de viver o que foi desfeito
Esse cansaço tão descaso de alguma paz
Esse entorpecimento regado de melancolia
Tem esse juntar de cacos do que não se refaz
 
Essa noite não tem descanso
Tem essa tosse rouca a romper o peito
Um cigarro queimando adormecido
Esse desespero ermo na escuridão
Essa noite não tem o remanso
No repouso da beleza do que não foi feito
Tem o coração pulsando endurecido
A alma adormecida de solidão
 
Essa noite não tem desejo
Tem o recato de uma fúria tão contida
O ódio domado, aprisionado em nenhuma prisão
Tem tanta luz de tudo o que não vejo
Tantos sonhos áridos e estéreis de imensidão
Tem um resto de vestígio do que foi vida
 
Essa noite não tem inspiração
Tem o esquecimento dos passos e da estrada
Essa noite padece de revelação
E passa incólume sem revelar nada
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 25/09/2009
Reeditado em 22/09/2021
Código do texto: T1831221
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