A ÚLTIMA VEZ

Sinto carícias tuas

Esquadrinhar a pele

A veia mais latente

O nervo mais inquieto

A carne crua

Palmo a palmo

Dedo a dedo

Dominando minha vontade

Fazendo de mim seu brinquedo.

Busco afastar-me de ti

Fugir para lugar nenhum

Liberta-me de teus braços

Do enlace das pernas

Da faminta boca

Das contrações do teu sexo

Da escravidão do encanto

Do prazer que me faz vibrar

Do gozo sucessivo

No afã de não mais findar.

Na penumbra dos lençóis

Descortino a luz púrpura da tua face

Ganhar forma e cor de alegria

Você em mim

Eu em ti

Já não sei que sou

Sou coisa tua

Sou barco sem leme

Navegando ao sabor do vento

Cavalgando a tormenta do delírio

Palmo a palmo

Dedo a dedo

Naufragando do teu ardente e indomável oásis.

Sussurras-me meias-verdades

Acredito em tuas mentiras de amor

Nas promessas do coração

Nos teus olhos nos meus

Na tua boca

Na tua língua

No teu sim

No teu não

No teu sexo

Nas tuas mãos

Palmo a palmo

Dedo a dedo

Desfrutando do desatino da minha razão.

Era noite

Não, dia era

O sol na janela anunciava:

Acorda! meu pobre rapaz...

O ontem se foi

O durante cede lugar ao depois

O amanhã bate à sua porta

Não é da chegada

É a porta da partida

Por ela alguém se foi

Sem o fardo da despedida

Não quis levar recordação

Mas te deixou um rubro bilhete

Sem desvendar para onde vai

Grafou com trêmula mão

Sob censura do taciturno cristal:

Adeus... outra vez jamais.

Antonio Virgilio Andrade
Enviado por Antonio Virgilio Andrade em 20/05/2005
Código do texto: T18307