A Bailarina
A bailarina dança
lembrando-me de quando eu era criança,
ouvindo sair da caixinha a música guardada
que ia sendo tocada,
depois da chavinha na borda
que várias voltas na corda eu dava.
A bailarina rodopia e,
de tanto que ela roda e roda,
‘inda me vejo como aquele menino
com o meu olhar vidrado na peça,
focando sem pressa o eixo de uma das pernas firmada
e o resto do corpo no seu movimento pro lado.
A bailarina gira e juntos bailamos curvas no espaço.
Ela, as diversas no ar formando seus ventos e eu,
as curvas do tempo no pensamento.
O redemoinho da minha visita
àquela infância tornada presente.
A bailarina põe fim aos seus movimentos
e graciosamente ela estanca.
A música junto termina,
parando os sopros de todos os ventos.
Levanto-me do assento e a aplaudo de pé.
Ainda restam alguns fragmentos teimosos na minha memória,
encapsulados pelos volteios da bailarina
naquele palco fantasioso da caixinha musical.