I
Em tudo que falo penso tão triste
Sentindo tão duro tanto sê-lo
Amarga hora maldita passa
De graça dilacera o que desespera
Já não sê-lo sem o silêncio
Mesmo sendo o grito só solidão
A imensidão que abarca aniquila
O vazio que envolve tudo supõe
Acaba ermo passo próximo em falso
Tão distante do que se ergue em sonhos
Dissonantes canções de cadafalso
Grande queda vôo tudo de volta
E em volta tudo que se afunda
Cega ilusão quimérica irônica
Sem luzes nem candelabros
Sempre um chão que se abre devora
Nunca um caminho apenas certo
Tão perto tudo se demora
Decerto quando erro acerto
Alguma palavra fora de hora
Linda e absurda histriônica
Agora a romper a fazer falta
O que sobra de vida soçobra
E o que me cobra esquece
Essa tristeza pura e incauta
De perder cada disso que não recobra
E me dobra dor tão profunda
Fecunda lágrima ardor inquieto
Meu teto de esperanças de sobra
Desejo de chão não ser completo
Um anseio criação nenhuma obra
Só ensejo de poesia moribunda
Basta que pense viver não dura
Pura angústia desnorteante
Basta que saiba efemeridade
Tocar o que a mão não segura
Impura imaginação desconcertante
Descria mundos finda eternidade
Necessidade tarde ver uma parte
Cegar-se para tudo tão importante
Pairar acima do que não é realidade
Na verdade mentir outra certeza
Com presteza ser só insignificante
O quanto antes negar beleza
Dispensar a hipócrita caridade
Iluminar-se perder a clareza
Renascer para o que é mortificante
Aceitar de vez o que não se atura
Em devaneios do que não se disse
Se não visse mais que um instante
Essa resignação com a incerteza
Intolerante luz para a cegueira
A vida inteira uma cela escura
Tão fria e vazia sufocante
Indolente com a hora derradeira
Tão certa com o que abjura
Imatura inspiração sorrateira
Altaneira de uma fé alienante
Diante da precisão do inesperado
Desesperado com o que se esgueira
Saturado do que não se queira
À beira do que não se tem buscado
Mais uma palavra, sequer mais uma
De uma poesia já agonizante
Andar caminhos nenhum jardim
Fados e sonhos nenhuma porta
Abismos e pontes nada que há em mim
O medo, enfim, mais uma folha morta
E corta o céu de meus dias
Cinza-escuro que azul aborta
Jasmim de minhas noites vazias
Garganta silêncio voz entrecorta
Se me dobra morta por que farias
Segredos de mais uma verdade morta?
Um mar espesso, perdido, ermo
Milhares de naus vidas sombrias
Perto e longe e onde meio-termo?
As luzes vagas o medo a praga
Um porto negro em terras fugidias
Onde a alma atraca tudo estraga
E traga a luz com o que me iludirias
Traz de além do além escuridão
Toda a treva para o meio-dia
E chama morte o que é solidão
Triste e duro como o que seria
Apenas dura e triste imensidão
Sem estrelas céu e chão
Sem palavras de uma inútil poesia
Tudo e nada faria pura desolação
Nasceria, viveria, morreria
Cansada alma dilacerada
Por nada não mais voaria
Calaria cada palavra marcada
Marcaria cada palavra que silencia
Matar cada palavra silenciada
De uma poesia assim desesperada
Em tudo que falo penso tão triste
Sentindo tão duro tanto sê-lo
Amarga hora maldita passa
De graça dilacera o que desespera
Já não sê-lo sem o silêncio
Mesmo sendo o grito só solidão
A imensidão que abarca aniquila
O vazio que envolve tudo supõe
Acaba ermo passo próximo em falso
Tão distante do que se ergue em sonhos
Dissonantes canções de cadafalso
Grande queda vôo tudo de volta
E em volta tudo que se afunda
Cega ilusão quimérica irônica
Sem luzes nem candelabros
Sempre um chão que se abre devora
Nunca um caminho apenas certo
Tão perto tudo se demora
Decerto quando erro acerto
Alguma palavra fora de hora
Linda e absurda histriônica
Agora a romper a fazer falta
O que sobra de vida soçobra
E o que me cobra esquece
Essa tristeza pura e incauta
De perder cada disso que não recobra
E me dobra dor tão profunda
Fecunda lágrima ardor inquieto
Meu teto de esperanças de sobra
Desejo de chão não ser completo
Um anseio criação nenhuma obra
Só ensejo de poesia moribunda
II
Basta que pense viver não dura
Pura angústia desnorteante
Basta que saiba efemeridade
Tocar o que a mão não segura
Impura imaginação desconcertante
Descria mundos finda eternidade
Necessidade tarde ver uma parte
Cegar-se para tudo tão importante
Pairar acima do que não é realidade
Na verdade mentir outra certeza
Com presteza ser só insignificante
O quanto antes negar beleza
Dispensar a hipócrita caridade
Iluminar-se perder a clareza
Renascer para o que é mortificante
Aceitar de vez o que não se atura
Em devaneios do que não se disse
Se não visse mais que um instante
Essa resignação com a incerteza
Intolerante luz para a cegueira
A vida inteira uma cela escura
Tão fria e vazia sufocante
Indolente com a hora derradeira
Tão certa com o que abjura
Imatura inspiração sorrateira
Altaneira de uma fé alienante
Diante da precisão do inesperado
Desesperado com o que se esgueira
Saturado do que não se queira
À beira do que não se tem buscado
Mais uma palavra, sequer mais uma
De uma poesia já agonizante
III
Andar caminhos nenhum jardim
Fados e sonhos nenhuma porta
Abismos e pontes nada que há em mim
O medo, enfim, mais uma folha morta
E corta o céu de meus dias
Cinza-escuro que azul aborta
Jasmim de minhas noites vazias
Garganta silêncio voz entrecorta
Se me dobra morta por que farias
Segredos de mais uma verdade morta?
Um mar espesso, perdido, ermo
Milhares de naus vidas sombrias
Perto e longe e onde meio-termo?
As luzes vagas o medo a praga
Um porto negro em terras fugidias
Onde a alma atraca tudo estraga
E traga a luz com o que me iludirias
Traz de além do além escuridão
Toda a treva para o meio-dia
E chama morte o que é solidão
Triste e duro como o que seria
Apenas dura e triste imensidão
Sem estrelas céu e chão
Sem palavras de uma inútil poesia
Tudo e nada faria pura desolação
Nasceria, viveria, morreria
Cansada alma dilacerada
Por nada não mais voaria
Calaria cada palavra marcada
Marcaria cada palavra que silencia
Matar cada palavra silenciada
De uma poesia assim desesperada