Convocando os Anjos
Ah!... Um dia eu te pego distraído,
Novo mundo, velho mundo corroído.
De mentir, fingir
Teve as cores desbotadas,
Nos belos sonhos perdidos,
Flâmulas velhas queimadas!
Convoca teus anjos dormentes,
Que no balanço dos tempos
Andam um pouco indolentes...
Olha, que nem faz muitos anos,
Gritavam a todos os ventos
Com palavras, é certo, empanadas,
Mas quanto efeito traziam...
Viravam cabeças, reviravam planos.
Vinham às dúzias, aos centos
Violas e gaitas empunhadas,
cobravam, maldiziam, transgrediam...
Vai buscar esses anjos, meu mundo!
Expulsa os demônios, que por descaso,
Em ti ora fazem morada.
Que no silêncio dos corredores
Traçam tragédias, planejam horrores.
Não te apercebes, amigo, vais ao fundo.
Mas não reclamas que foi o acaso...
Vira o jogo, troca o quadro.
Precisa pouco, quase nada!
Pega as canções antigas,
As poesias guardadas,
Te afasta prá qualquer canto,
Lê um pouco, medita outro tanto.
Repara que aquelas cantigas,
Se fossem cantadas agora,
Pareceriam novinhas, recém acabadas
Quebrando tabus, botando tudo prá fora!
Mas, com certeza, uma hora dessas,
Os anjos encontram a trilha da volta
E, voltando a falar de flores,
Ainda que com o peito às avessas,
Plantando palmas, talvez cravos,
Todo o cortejo se solta
E devolve as tuas cores.
Não distraias, velho mundo,
Que mesmo sem teus anjos mais bravos,
Serás feliz de novo!