A maldição de uma noite

Acordei no meio duma noite abafada

Com o barulho de gritos vindos da calçada

Rompeu-se outra vez o meu sono mal dormido

Com o silencio do meu quarto interrompido

Almadiçoei os vizinhos, os cães e todo o resto

Quando abri a janela, um uivante vento funesto

Esvoaçou todos os papéis sobre meu leito

E um calafrio inquietante rasgou-me o peito

Todas as orações da igreja ao lado

Silenciaram ante o meu blasfemo brado

- Silêncio! Ao Diabo com estas cantilenas –

Gritei àquele desafinado coro de hienas

Prostitutas e libertinos em uma orgia

E o canto esganiçado de uma gia

Me são com certeza mais harmoniosos

Do que estes toscos cânticos religiosos

Vesti-me em um instante e lancei-me à rua

Orientei-me pelo brilho da lua

E apressado, tomei a direção do vento

Para longe daquele edifício barulhento

Busquei na paz silenciosa dum cemitério

Entre as sombras de Santo Amaro, um mistério

Dentre tantas almas desencarnadas de Recife

Procurei para mim, um vago esquife.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 20/09/2009
Reeditado em 22/06/2018
Código do texto: T1821120
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