A maldição de uma noite
Acordei no meio duma noite abafada
Com o barulho de gritos vindos da calçada
Rompeu-se outra vez o meu sono mal dormido
Com o silencio do meu quarto interrompido
Almadiçoei os vizinhos, os cães e todo o resto
Quando abri a janela, um uivante vento funesto
Esvoaçou todos os papéis sobre meu leito
E um calafrio inquietante rasgou-me o peito
Todas as orações da igreja ao lado
Silenciaram ante o meu blasfemo brado
- Silêncio! Ao Diabo com estas cantilenas –
Gritei àquele desafinado coro de hienas
Prostitutas e libertinos em uma orgia
E o canto esganiçado de uma gia
Me são com certeza mais harmoniosos
Do que estes toscos cânticos religiosos
Vesti-me em um instante e lancei-me à rua
Orientei-me pelo brilho da lua
E apressado, tomei a direção do vento
Para longe daquele edifício barulhento
Busquei na paz silenciosa dum cemitério
Entre as sombras de Santo Amaro, um mistério
Dentre tantas almas desencarnadas de Recife
Procurei para mim, um vago esquife.