Lucidez
Aqui em cima é o lugar onde morro,
Contemplando as luzes de Brasília.
Sozinho, bem no alto deste morro,
Eis que me sinto como em uma ilha.
Cercado de variados matizes,
Afogo-me na ânsia de debelar
A náusea do que delas predizes
Sinto, mas não quero acreditar.
Vejo, mesmo que não queira ver,
Essas luzes, agora, nada significam,
São difusas, mal se pode perceber.
Ao homem, já não mais dignificam.
Trazem dor, entremeada na cobiça.
Não são as luzes que esclarecem,
São as sobras, os restos, a carniça.
São a fortuna para os que padecem.
Dessa terrível doença, esta loucura,
Que infesta e absorve nosso mundo,
Dos que só se interessam pela usura.
Vamos descer ainda mais ao fundo?
Nunca nos alimentaremos dessa seiva,
Não revele essa verdade, não a Comte.
Soubesse que iria viver sob essa eiva,
Desejaria jamais estar aqui neste monte.
Preferia, mesmo, ter ficado na penumbra.
De que valem as luzes, se elas alucinam,
Para que o conhecimento, se não fecunda,
Como fica a razão? Se os homens a abominam.
Brasília-DF, 18 de setembro de 2009.