Fendas abertas

Em noites angustiadas, dessas noites sem estrelas, despedaço-me em minhas vestes ensangüentadas de solidão.

Em vôo cego, insano parafuso, busco desesperadamente encontrar, num palheiro abstruso,

A salvadora e mágica agulha com a qual irei costurar as fendas deste meu Ser tão confuso.

Fendas por onde escapam em catadupas as mais insólitas questões, usurárias que de mim, em decisão temerária - fizeram usucapião.

Meu corpo-terreno torna-se, mediante tempestuosas dúvidas, fértil habitáculo de harpias sugestões.

Faz-se mister encontrar uma nova maneira de codificar o meu sentir, colocá-lo a salvo da sanha de ávidos ciclones e furacões.

Não mais lutar com os ferrenhos titãs que me corroem as entranhas, a disparidade de forças é tamanha que me empurra a tergiversações.

A fugidia e melíflua inspiração deixa-me abandonado no atol dos desesperados, guerreiros perdidos de outras revoluções.

Guerreiros de guerras perdidas, a quem honras não se prestam por doarem suas vidas por causas incompreendidas.

No vôo cego da noite, timoneiro da nave de meu torvelinho pensar, um mapa vou desenhando por terras desconhecidas,

Ainda por desbravar, formando capitanias, criando um novo alfaiate prá minhas fendas vedar. Compro uma passagem de ida

E espero o meu sol-navio irromper no mar da Aurora. Não há que haver mais delongas, os pássaros anunciam a hora – é um chamado prá vida.

A sensação angustiante de não ter respostas para as questões mais prementes, soa, para mim, como se pesadas algemas fossem colocadas em nossos braços, deixando-nos apenas as pernas em liberdade, num caminhar sem nada poder segurar.

Vale do Paraíba, noite da segunda Segunda-Feira de Maio de 2009

João Bosco(aprendiz de poeta)