Spike
(a Admari, minha eterna professora)
Noite e dia,
dia e noite no deserto.
Terreno aberto.
Céu aberto,
todo seu,
tudo seu.
É presidente,
é vice,
tesoureiro,
membro...
o único que tem,
o único alguém.
No deserto ele,
mais ninguém.
De deserto,
de bigode,
de chapéu,
de fachada
escreve emeio
pra possível namorada.
No deserto os cactus.
Com eles fala,
com eles brinca,
a eles ordena,
a eles chama,
sem contato.
Medo dos espinhos,
medo do tato.
Mas tudo é seu:
o deserto,
o terreno,
o céu,
e os espinhos também.
Também os espinhos.
Seus e de mais ninguém
são os espinhos também.
Mas Spike é irmão.
De Snoopy,
de Tereza,
de Maria,
de Cláudia,
de Pedro,
de José e de João,
meu e seu ele é irmão.
Um gêmeo irmão
Esse espelho inverso,
sem estrofe, sem verso,
esse uno externo
em deserto, interno,
brilhante humano, urbano,
tão límpido, tão terno
é o brilhante ser do mundo pós-moderno