Viagens

em pouco tempo

estarei de malas prontas pra partir

pra morrer

pra gozar

e fugir pelos templos europeus

sem nada comer e muito menos sonhar

um corpo que some

é uma vida que nasce

substituição imprópria do belo e importuno

obsceno

minhas viagens são obscenas

meu sexo é obsceno e vulgar

tua lua se reveza em atos bucólicos

e minha mala se quebra :

pratos de porcelana

fotografias antigas

roupas de brechó

discos de vinil arranhados

pedaços de papel esquecidos em mim

viajar...

onde estamos que fingimos felicidade?

viver é uma viagem?

brutal? insólita? ignorante?

nada é mais que uma canção de Caetano

na voz de Gal

e eu fico na estação esperando minha vez chegar

minha vida chegar

enquanto espero minha viagem psicodélica cessar

pois minha vida é um amontoado de bobagens

amontoado de esperas

amontoado de malas que nunca foram esvaziadas

e verdades que nunca foram ditas

O trem...

O trem...

eu perdi o trem...

e a mulher deu a luz ao meu lado...

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 24/06/2006
Código do texto: T181601