Olhar Brincalhão
Olhar Brincalhão
O forte sol de Janeiro banhava nossas cabeças, trazendo a pleno o Verão.
Nas ruas as gentes correndo, urgentes, vagantes, sem rumo – desnorteadas.
Em meio a tanto tumulto, tenho em fração de segundos, uma visão inesperada:
Um par de olhos brilhantes; a cor dos olhos? Não sei; só sei que estavam sorrindo, brincando na confusão.
Pareciam jabuticabas, tal o brilho que conduziam. Fico a pensar quão feliz é a dona que os carrega.
São mais que olhos: são espelhos. Se de moça, a torna mais moça. Se em dama não têm idade.
São condutores de amor, porta estandarte de ardor. Olhos assim nunca mentem – são olhos só de verdade.
São olhos de quem muito ama; de quem é amado também. São olhos que envolvem, cativam – são olhos de quem se entrega.
Da dona só vi o vulto, passando na multidão. Talvez se chame Maria. Luciana ou Conceição.
O nome pouco me importa: pode ser também Clarisse, Valéria, ou outro qualquer.
Não sei a cor dos cabelos; da idade também nada sei. Guardei o brilho do olhar – daquele olhar brincalhão.
Vi que era dama de talhe; porém o grande detalhe, antes que a minha memória falhe – são os olhos daquela mulher.
Olhos tão brincalhões me remetem a uma música de Adoniran Barbosa: “Tiro ao Álvaro” da qual tomo de empréstimo esta passagem: “Teu olhar mata mais do que bala de carabina, que veneno estriquinina, que peixeira de baiano. Teu olhar mata mais que atropelamento de automóvel, mata mais do que bala de revólver”.
Vale do Paraíba, noite da terceira Quinta-Feira de Janeiro de 2009
João Bosco