Clichê de Cachê do Michê

Clichê de cachê do Michê,

já recolhi alguns desses torpedos

e embora eu saiba que me apontarão os dedos

(justamente aqueles que participaram dos brinquedos)

prosseguirei na hercúlea tarefa

de fazer o que não presta.

Como se fosse possível

hoje fiquei mais pobre,

mas antes que o miserê dobre

afastarei qualquer intento nobre

e me esbaldarei em bugigangas,

em óculos de sol e colar de miçangas.

Além, é claro, de uma nova toalha que sirva de canga

e que cobrirá o corpo da moça que me enlouquece

nesse tempo de tanto sobe e desce.

Antigamente me chamariam de "Farofeiro",

insolente pobre arruaceiro,

que insiste em expor sua miséria e seu pardieiro.

Para não falar do cheiro, certo "mon cherry"?

Oh! Oui! oui.

Mas vivo no tempo do "Politicamente Correto"

e, assim, já não sou "Farofeiro".

Sou "deglutidor de farináceo"

no País que emprega Luis Inácio.

Boas almas me indagarão o que faço desse Segredo?

Alertam-me para novo degredo,

pois, no norte, armado de dar medo,

um bobinho brincava de "cowboy de Laredo".

Ou sobre o destino de Prometeu

que ousou rebelar-se contra Zeus

e fez os Homens seus.

E que agora estrebucha acorrentado,

picado e mal tratado,

no Virtuoso Burguês Rochedo,

que acorrenta o Homem sem Medo.

Avisam-me que as hárpias tornarão a gritar

porque estou danado por tanta Perdição.

Olho-os e lhes vejo: crias

vazias

e viventes à revelia.

Fecho os olhos e sinto essa ressaca danada,

castigo pela viagem mal calculada.

Gostaria de convidar a todos para que vissem tal fracasso,

coisa de infartado sem Marca Passo,

de chão sem palha de aço

e de Samba sem compasso.

Mas não me queiram mal,

pois como tudo, eu também passo.

E aqui deixo meu abraço.