Majestade,

deixo sobre a cama o manto de veludo
que pesa em meus ombros
e,
no chão,
os sapatos de ouro que me ofereceste
quando estavas bêbado,
naquela noite em que me fizeste crer
ser eu a donzela que esperavas
em teu castelo.

Devolvo-te a aliança cravada de brilhantes
que ferem meus dedos há anos,
não se sabe,
ao certo,
quantos.
Mas que importa isso agora
quando meus sonhos,
todos,
foram-se embora
e é chegado o fim da festa?

Deixo-te livre em teu reino de prosa e verso.
Só peço que me abras a porta
com a generosidade que propagas ter
e não firas meus pés já machucados
e descalços.
Ofereço-te,
em troca,
meu poema derradeiro,
escrito no lombo desta carruagem de abóbora,
pobre de raros escritos,
sim,
mas verdadeiro.

Comunico a Vossa Majestade
Senhor Rei, 
que,
enfim,
estou partindo
nos braços do teu mais belo servo -
antigo,
seu amigo,
sempre fiel -
mas sedutor cocheiro ...