Nem tremo com este ventinho! 

 ( Vaqueano)


O capitalismo faliu!

E daí “Indiada” velha;

Eu tenho muitas patacas;

Bem guardadas nas guaiacas.(*) 

Lá no fundo do potreiro;

Tenho uns potes com dobrões;

Uns de prata outros de ouro;

Bem guardado é o meu tesouro! 

No rádio lá de casa;

Escuto umas coisas esquisitas;

Muita gente em gritaria;

Reclamando da tal bolsa;

Discutindo micharía! 

Eles falam duns “Chirú”; (*)

Que vivem só de renda;

Destas coisas eu não entendo

Mas as rendas que eu adoro;

Ta nas “pilchas” da minha prenda. 

Lá no pasto bem criado;

Ta meu gado “Macanudo”;(*)

Também tem porco e as ovelhas;

Com os ganidos do tio Sam;

Nem esquento minhas orelhas! 

Quando a coisa cá aperta;

Bem pilchado, bota e esporas; (*)

Montado no meu pingo

Pra arrebanhar uma boiada;

Eu me largo campo a fora!

E depois vou lá pra feira

Pra vender esta manada

Eu sou lizo nos negócios;

E apertando bem a chincha; (*)

Não aceito nem pechincha. 
 
 
 
 
 
 

Quando o negócio ta fechado;

Com a mala de garupa, recheada;

No bulicho bebo uns trago;

E da china ganho um afago! 

E me toco pra invernada;

Mui alegre e sorridente;

Com meu coração ardente;

De saudades e de paixão. 

Pois na porteira lá da estância;

Ta minha prenda, me esperando.

Com a cuia presilhada;

E a bóia preparada; 

Nós do campo, nem trememo;

Com estas coisas lá do Bush!

Pois vivemos no debuche;

D’alma livre do “Gaúcho”! 
 

Glossário: “Chirú Cidadão ou peão de estância com mais de 40 anos, meio idade!

                  “Guaiacas” Niqueleira, porta moedas que está fixado no cinturão do Gaúcho!

                  “Pilchas” Vestes típicas do Gaúcho e das Prendas. Ex; Bombachas, Lenço,     Chapéu, Xiripá, faixa de cintura, relho, Botas, Vestidos longos e rodados, sapatilha, leque.

                  “Macanudo” Algo muito bonito, de primeira, nota 10.

                  “Chincha” Cordoalha que segura os pelegos ou a cela no lombo do cavalo. 
 

Boeira! (*) 

 ( Vaqueano)


Grande amiga estrela d’alva;

Solidão lá na canhada,

das noites mal dormidas;

nas amadas madrugadas. 

Me olhando lá na espreita,

Retovando com seu brilho,

Inspirando os estribilhos,

de meus versos mal escritos

Quase nunca me respeita. 

Minha amiga companheira;

Quando cá sólito estou;

buscando inspiração dos rabiscos;

de meus temas, “Poemas”!

Heira, beira e poeira. 

Nestas noites mês de abril,

canto leste do giráu;

nem calor tampouco frio;

Despertar do galo ou do bugio. 

Todas as noites neste rito,

Do mais forte a te expulsar!

Guarnecendo algum proscrito;

Simetria ou grito aflito, 

Nesta hora da mudança!

Neste céu constelação;

Como que não querendo partir.

Palpita meu coração;  

Sem maldade e má intenção;

Lá no céu estás despida;

tu pareces o coração;

do universo “Imensidão”! 

Glossário: “Boeira” Termo que o Gaúcho dá ao referir-se a estrela d’alva.

                   EX: Quando o clarão da “Boeira” queimava a noite Charrua.

                           (Versos de Jaime Caetano Braun). 


Recuerdos do pampa. 

( Vaqueano)


Preto, branco ou mulato,

Pobre, remediado ou abastado.

Ao índio rude que norteia,

Campesina tradição. 

Fandango de meus recuerdos,

Do galpão velho, chão batido,

Candeeiro, quase apagado.

De picumã em seu bojo.

A cada vês que a gaita floreia,

Tu arrebanhas seu povo. 

Da Florisbela, sempre lindaça,

Tal qual gole de cachaça, daqueles.

Que mata o frio do inverno chuvoso.

Todos dançam alegremente,

Neste baile harmonioso. 

Pica-pau, Maragato ou Ximango,

Xote, vanerão ou quem sabe um tango.

Índio da terra ou correntino,

Moço, velho e até criança,

Hão de guardar na memória,

Esta gostosa lembrança. 

E hoje aqui na cidade,

Buscando melhores dias.

Em correria alvoroçada,

Da indiferença na rua e calçada,

Esta memória é ativada.

Assim como de um sopro no tição,

Quase apagado de brasa. 

Esta gostosa memória reponta para o descampado,

Recuerdos deste velho galpão, largado num coxilhão.

Pingo, China, Cusco e Chimarrão.

Para lembrar que mesmo aqui distante,

Não esquecemos a tradição do nosso glorioso rincão. 



*

Biografia 

Glauco D’Elia Branco (55), profissional da área de serviços técnicos , natural de Porto Alegre, RS, casado, três filhas e dois netos, residente no estado de São Paulo desde 1984 e em Sorocaba desde 1991.

Escritor e interlocutor de poesias de cunho Gauchesco e temas livres.

Participante de Tertúlias Nativistas do CTG Centro de Tradições Gaúchas “Fronteira Aberta de Sorocaba” e “Saudades do Sul de Embu” neste estado.

Integrante da “Associação Cultural Coesão Poética de Sorocaba”; participou programa “Descobrindo e Rio Grande” na rádio Cruzeiro do Sul FM de Sorocaba de eventos na Escola municipal Ary de Oliveira Sabra inauguração da biblioteca “Monteiro Lobato”.

Na FUNDEC durante semana do escritor de Sorocaba 2009 e concurso de poesias da universidade de Sorocaba UNISO atualmente participando do XIX Premio Mountonnée de Poesia da cidade de Salto - SP.

Pseudônimo: “Vaqueano” 



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