Reflexão em um dia de chuva
Olho pela janela de vidros longos, verticais
O gramado que agora chega com sua beleza
Banhado pela chuva que cai brilha à minha frente
Em um canto a rósea azaleia encanta os olhos
E enfeita o cenário que aos poucos se aconchega
A grade marrom pontiaguda protege
A escada com seu degrau irregular prega peças em quem não conhece
O asfalto, com seus inúmeros buracos pede urgente melhorias
São veículos e mais veículos que passam dia-a-dia
Transeuntes. Passageiros desta vida que caminham sem parar
De um lado para o outro, sempre a procurar
Buscando uma razão para viver, uma razão para existir
Alguns com guarda-chuva na mão
Outras permitem que os pingos toquem seu corpo
Continuam caminhando para a direita, para a esquerda
Atravessando em frente aos carros que passam.
E o dia passa.
Os pinheiros do terreno em frente balançam ao soprar do vento
Lembrando-nos a graça do ar, de respirar
Telhados, sacadas, construções inacabadas
Tudo vejo e percebo contínuas mudanças
Ainda bem que há mudança... Nada é inerte
Nem as estátuas da praça que um dia podem ser retiradas
Também eu não quero que a inatividade me atormente
Com sua pacatez constante que desanima
Quero poder mudar de opinião sobre determinado assunto
Quero poder conversar com branco, negro, rico, pobre
Criança, idoso, homem, mulher, homossexual, político
Quero poder ter a humildade de mudar de opinião sem ser julgado
Chamado de “duas caras”, “sem caráter”... “sem palavra”
É meu direito!
Opiniões, ideias, teorias... nada é definitivo
O que é hoje pode não ser mais amanhã, como você e eu
Por isso quero viver sem ser julgado
Ter minhas opiniões hoje e defendê-las
Amanhã, quem sabe, já não me são
Sozinho fico a deslumbrar a chuva que molha a terra
E a terra que dela se alimenta
Da janela vejo a rua e sinto o tempo passar
E que tenho muito tempo pra viver, muito por fazer e muita luta a enfrentar.