Linha do tempo
Minhas recordações mandaram cartas
Falando sobre o passado
Lembranças invadiram
O tempo e o espaço
E marcaram a hora e o dia
Em que eu me veria no espelho da vida
Fiz então reciclagem na alma
E escolhi as melhores molduras
Mas quando chegaram as imagens
Pegaram-me como sou
Menino simples, plural, composto e singular
Da mesma forma que me deixei um dia ainda criança
Mas não sei se foi pela inoportuna busca por resultados
Ou se por trocar a simplicidade do brilho das estrelas
Pelas alegrias supérfluas da terra
Que aos poucos deixei morrer um tanto da inocência
Só sei que foi assim, que me vi diante o espelho da vida
Por isso reescrevo e deixo na tela transparente do meu presente
Alguns pequenos fragmentos do que ainda me resta
E digo: pudessem todos os meninos, quem sabe talvez um dia
Contemplar os instantes mais puros
Repensar as alegrias verdadeiras
E assim compreender melhor a vida
Já que não esquecer é o caminho para que se tornem melhores
Não importando onde e nem quando
Pois a vida vai magoando, surpreendendo
E o menino apesar da alma, vai se desgastando
Sendo assim, o que era simples vai se complicando
E o que era puro, acaba se findando
Ah...a vida, essa luta desigual e desumana
Que dobra e machuca os joelhos da gente
Que amortece os desejos e a saudade
E nos faz seguir adiante
De mãos dadas com a realidade
Por isso viajo com os pés fincados no chão
Brinco de pique comigo mesmo, empino pipas com a linha do tempo
E nado no rio das incertezas mais certas
Para que um dia eu volte a correr na chuva
Sentindo no rosto aquele vento sem norte
Aquele sol sem sombras e aquele céu sem nuvens
Sendo assim, que eu volte agora
Sem querer saber do tempo
Sem querer saber da hora