Primeira Lei de Newton

Cedo demais é sempre cedo de mais

Penteio meu cabelo até ele se embaralhar

Essas coisas que a física explica mas não me interessa saber

Eu tenho pressa,muita pressa

Das coisas que não fiz e das que não vou fazer

Pressa de ver o tempo passar,apenas isso

Sair do hoje e ir pro amanhã e para o depois de amanhã

Pânico que o tempo passe muito rápido

E se torne imaterial

O teclado da maquina de escrever faz um ruído hipnótico

Concreto,completamente concreto

Ríspido e fugaz,e cada tecla que eu aperto esvazia-me a alma

Toda a sensação de vazio de um texto que não expressa nada

Com suas palavras que rodam e rodam e param na minha língua quase que por milagre divino

E eu me calo,porque eu nunca tive nada a dizer

A essas belas paisagens por detrás do vidro de meu escritório

Todo o bucolismo da fumaça que dissipa no ar

É poesia meu deus,isso é poesia

Não as palavras chulas que escrevo

A cidade é linda com todas as suas figuras bizaras

Se pudesse descer abraçar-las-ia,uma a uma

Mas eu tenho muito trabalho a fazer enquanto perco tempo

Vamos relógio, passe

Eu quero dormir logo,mas não esse sono do qual eu não sinto passar

Eu quero um sono que ultrapasse todo o meu futuro

Acordar e ver a vida perfeita que eu tenho,eu sei que a tenho

E a pessoa bela que sou,que se esconde por de traz de todo esse cansaço

Eu juro que a culpa é do sono,do sono extremo de tanto dormir

Eu apenas preciso de uma boa palavra para começar um poema

Mas não, me deixo escapar por entre o vento da janela

Amo-o apenas porque acho que é deus

O dia então acaba,magicamente acaba

Eu vejo a cidade adormecer as pressas

E não tenho sono,é tarde demais pra isso

Se eu quisesse evitar o tempo eu não dormiria

- A efemeridade é uma benção-

Confessou-me Vênus em seu espartilho vermelho e apertado

-e eu sou muito mais feia que o rabisco de Millo

E ela roubou todas as moedas que ainda restavam na minha carteira

Ainda sinto o gosto do drink que poderia ter comprado

Mas a falta de lucidez de hoje não interfere no excesso que a procederá

Despejo-me na cama,e magicamente o som das teclas continuam a me apertar os ouvidos

Eu sairia correndo se pudesse,não quero dormir,não agora que devo

Cansei-me do sono dos deuses e também do dos mortais

Mas a sobriedade é um erro,apenas um erro

Largo-me inerte na cama,para acordar também inerte amanhã

Para escrever um outro poema e morrer daqui uns 5 anos

completamente inerte

Pelo menos eu posso dizer que o tempo em que fingi estudar física

fez algum sentido poético