Cultura de Almanaque

Porque minha cultura é de Almanaque

confundo oboé com atabaque

e pedido com achaque.

Também associo escorchante

com o Inferno de Dante

e o vicio da Simonia

com a divina preguiça no 6° Dia.

Pseudo poeta chinfrim

sei que riem de mim,

porque embora iletrado

cometo o vil pecado

de ser atrevido e ousado.

Burro!

Nem teu câncer está curado

e já se arroga o direito

do Verbo ser Sujeito.

Dizem-me: velho,

recolha-se ao pijama amarelo

e saia do caminho

sem pedir carinho

ou guarida,

pois o que fazes é usurpar a Vida.

Note tua mancha colorida,

tua dor doída

e recolha tua mágoa sentida.

São mancos os teus versos,

difusos teus universos

e porque te chamam de coxo

vá para outro cocho

onde te oferecerão sal grosso

à guisa de almoço.

Shiiiii! Nada de alvoroço!

Senão apertaremos teu pescoço,

onde antes vicejou o Linfoma

e que te põe nesse infindo coma,

até que só te reste um único osso.

Escrevo errado

para o Amor que não se usa.

Amo errado

como num texto de pé quebrado.

A moça morena me chama

de velho teimoso e de bengala.

E que sou um Marxista fora de moda

(imagino a rima com f ...).

A moça de Poços diz que sou um canalha.

Um homem me acusa de ser plagiador

e que ao me ver fará uso da navalha.

O f... é que emagreci e temo não ter sequer a mortalha

(também ... poeta ... vagabundo ... que nem trabalha).

A mulher assanhada me chama de Lúmpen da Sociedade,

modelo da falta de sobriedade,

da falta de responsabilidade ...

Mas às vezes imagino que alguém goste de minha insaciedade

que, aliás, ressente-se da minha velha idade.

Mas que ainda aflora

quando chega a hora

de ouvir o sussurro

que me queda como um murro.

No livro de auto-ajuda convenço-me de que Sou,

pois Descartes, que também já duvidou,

usou do raciocínio

para conferir-se como Existente no Destino.

E eu, insolente,

faço o mesmo. Espio se sou gente.

Talvez eu seja a Idéia de Platão.

Fenômeno só parecido

com aquilo que já devo ter sido.

Talvez eu seja o Zaratrusta de Nietzsche,

mas é que eu moro num simples Kit;

e sem que esteja completamente quite

com o amor do pós desquite

que acabou acontecendo

de forma tal que penso estar enlouquecendo

(deve ser por isso o tamanho desse poema)

de saudade, desejo e vontade

de te ver em todo fim de tarde.

Preta, não consigo amar-te sem alarde.

Quando penso em tua carícia

que percorre minhas pernas

e se posta

onde o Diabo mais gosta,

estremeço e escureço

qual céu de Verão

que de tão denso

desmorona em chuva pesada,

em uva adocicada

e em beijos da nova namorada.

Velho! Chega! Volte para tua vida calada.

Para tua sala fechada

e para tua cara amarrada.

Você não é culto ...

nem parece adulto ...

Ouviu? Seu p ...

Onde já se viu?

Velho sem vergonha!

Como ousas ser feliz?