Piaf
É essa Lua que transborda.
É esse brilho que com tudo concorda
e que ilumina o sonho do qual não se acorda.
Talvez seja o excesso de movimento
a causa desse pouco sentimento.
Atento
para todo
e quaquer momento,
pois sei que seguirás o vento.
Do possível sonho parirás um rebento,
e será esse filho de pensamento
aquele que estará
num canto do quarto
absorvendo o doído parto.
Há um beijo morno
e a dor de teu incerto retorno.
Como medir tua presença,
se tua ausência a tudo preenche?
Apago o abatjour
e ouço Piaf cantando "hine la amour".
No meio do Mundo, estou só.
Não se corta o gordio nó.
Só estou,
logo já me vou.
Em busca do "amour" de Edith,
ou de outra Afrodite.
E é esse Luar exagerado
que me põe nesse estado.
Que me deixa colado,
nesse duro estrado.
Mas é preciso renovar o ar viciado
e mostrar-me feliz e despreocupado,
pois logo irão exigir
a conta,
de quanto devo rir.