Espanto
Espanto
Onde anda a barata que rondava a minha cerveja,
que lambia o meu destino, língua áspera,
roçando o meu orgulho?
E a treva na esperança? O câncer no espírito
roendo a minha fortaleza, deixando-me alheia de mim mesma, frágil, demente?
Onde se esvai o meu tempo?
Onde o relógio do mundo?
Pulsa o meu instante de amar, viver e crer que os poetas permanecem
loucos
ante a sozinhez das cidades inatingíveis.
Meus pés passeiam luas, desordenados, tristes e sós.
E eu? Como desvendar o mistério das cavernas?
Como me livrar do emaranhado da morte? Meus olhos acendem a madrugada,
buscando formas e cores que mesclam entre o medo de ir e a urgência de ficar.
O que fazer com o sexo? Alienado, complexo, sem nexo,
preso na moldura de minha visão mais pura.
Se o sexo não vai bem, a angústia vivifica.
Na boca, um gosto de noite,
de grades na alegria.
A grandeza do sexo borda a nossa poesia e ela cria asas, dança rock and roll,
overdose que o corpo purifica,
lavando o azinhavre da alma, da cabeça
espessa, avessa.
Nem Freud explica!
Marilia Abduani