Manifesto (claro e declarado).
Passei a coexistir
Nos degraus dos meus passos
Em um tilintar de doses mornas
A boca alheia que quero.
Fui partícula de uma parede
Na cor do conceito de uma construção
Em terreno baldio
Que fiz morada de sonho.
Trilhei o agora do passado
Nos pés de uma saudade mineira
Que caiu na garoa de um sorriso
No que sorvi da paixão.
Desci ruas nos braços
De uns abraços selados em letreiros,
Esculpidos nos cortes assimétricos
Dos temas da terra que bebo.
Risquei a giz um segredo
Na oratória de um amor,
Resumo de várias histórias
Em loucura organizada.
Se fui poeta nesse viver,
Não fiz revoluções,
Nasci revolucionada, pronta para amar.
Andei fora dos trilhos,
Do milho no campo fiz a pipoca,
Do choro a sina de um não-sim,
Do desdém um amor em cada esquina.
Não tenho versos nem tenho mais voz,
Sou antagonismo de meu silêncio
No declínio risível das inexatidões
Do coração que escreve.
Refinei até o sol que queimava
A pele parda que o estilete alisava,
Dei de comer ao corpo,
Dei de sonhar a alma,
Nutri a caixola de palavras,
Vi as belezas que quis,
Criei as que o tempo engoliu,
Toquei estrelas fora do céu.
Se fui poeta não percebi,
Sei que vivi coexistindo em muitos mundos
E em um deles me perdi, na poesia do amanhã.
Corri nas várzeas de um cigarro,
Neblina do meu dizer
Que disse Adeus sem vontade
Trocando as cartas da vida na fumaça de um quarto.
Se fui poeta...
Ah! Se fui poeta não morri...
Preguei a dor de desistir
E a palavra a insistir
Conseguiu mais uma existência redimir.
Se fui poeta? Não sei...
O que sei é que a paisagem
É a de saber que renasci.