Vamos ver o underground de perto?
Vamos ver o underground de perto?
propus à moça,
e ela aceitou.
Um copo de vinho barato
e um cigarro mais barato ainda. Tudo cheira
a suor e sêmen.
Uma solidão que tortura
não passa de uma solidão – imensa –
que tortura.
Pena não ter todas as idades,
todas as chaves,
todos os corações.
Seria eu dono da tropa,
indomável tropa do meu ser,
(in)domável tropa do meu estar.
Existo se existes, e isso me fere.
Amo a exatidão das coisas,
com seus nãos
e seus talvezes.
Amo a vida como a morte,
a certeza e a inexatidão,
o tédio e o pior remédio.
Queria ser mais,
inusitado e fútil,
quem sabe o Presidente da República.
Não sei, e o não-saber me faz sentir.
Tomo mais um gole, acendo mais um cigarro,
e um minuto não terá
nenhum segundo mais
além dos sessenta
já deteriorados.
Ser? Talvez estar? Talvez não-talvez.
Sob as marquises os sonhos dormem
sem saberem apenas sonhos.
Vivo, e já não sei se me basta.
O celular tocou.
É o Serginho? Não, amigo. Não é.
Sabemos haver um deus?
Sabemos deixar pra depois?
O tempo não existe,
simples mercadoria nas vitrines.
Pobres os que sonham a paz,
e sonhamos a paz.
Não estou em mim.
Estou nos outros e no que não sou.
Mas não estou em mim.
Não está em mim o feio,
não está em mim o bonito,
Está nos bares, nas repartições, nos
cemitérios, nas senhoras de aluguel,
nos outdoors, nas represas, no último metrô,
no próximo pedinte, no cafezinho com
adoçante, no locutor, no caos, no qualquer.
Estar aqui, estar ali,
deixar herança, ter nação. É o que me dizem,
e eu não digo nada.
Comprar à vista, ter conta em banco,
salvar em disquete, sonegar?
A linha limítrofe,
mas não há a linha limítrofe.
Há a anestesia, o ódio, o anel de noivado,
o cosmos, o dente incisivo, a mãe e o pai,
e a minhoca. Há a vontade de vencer.
Mas o que? mas quem?
Há a terapia ocupacional
e o resultado da mega-sena.
Há a vontade no semblante
e quem me impede de viver.
Alguém me diz, eu repito;
invento, alguém reinventa.
Depois da morte? terra, mãe chorando ( se
houver mãe) e a culpa por não tentar.
Amor, menina, é fruto que se come no pé
de tomate.