EU SOU TUDO ISSO
Eu planto flores, eu planto palavras,
Eu semeio hortaliças, eu semeio o amor,
Eu faço punhal que no meu peito cravas.
Eu derramo o sangue de vermelha cor,
Eu peregrino no tmpo e estendo a mão,
Esmolando a espórtula para a santa caridade.
Em nada encontro, um nada em vão;
Eu saúdo a tristeza, eu saúdo a saudade,
Eu compro o que vendem e os dou de graça.
De minhas roupas pobres faço um leilão;
Não me rndo diante a miséria, diante a desgraça.
Sou solitária como um fantasma no salão,
Onde cadeiras desmancham por falta de assento.
Sou o pó da estrada onde a chuva não cai.
Meu eco se perde no espaço levado pelo vento.
Sou andarilha imaginária de um sonho que vai
E perde em cada rosto encontrado na multidão.
Sou o lamento chorado em forma de poesia,
Sou o gemido noturno - a própria solidão -
O abandono transformado em hipocrisia.