CHORO DE NOSSA SENHORA

CHORO DE NOSSA SENHORA

O sol cambaleia no horizonte

E, distante, o mar descortina-se migrando nossa existência;

Na parada de ônibus, "uma esmola pelo amor de Deus",

E dos céus, em vez de esperanças

nuvens escuras, Zeus, a encobrir pecados mortais.

O carro passa a mil pela avenida distraída dos sonhos,

e nos hospitais, morre-se de pesadelos reais

e já não há sequer mertiolate para colorir os "ais";

No calçadão, a moça requebra faceira e

um carro encosta sem bobeira e se vão:

ela em troca do pão,

ele, dono da nota, troca dinheiro por ilusão;

Do alto, o sino toca que a missa vai começar!

Nas favelas Nossa Senhora chora

Vendo a fome escondida no zinco enferrujado do barracão.

A noite acasala o dia como se fossem marido e mulher

Como se o afeto não tivesse escola

Como se a vida fosse sempre esmola

Como se esmola suprimisse a cola

Como se cola fosse de araque

Como se quem usasse cola não usasse crack...

Como se políticos disto não gostasse...

CARLOS SENA, DOS ARRE(DORES) DE BOA VIAGEM, NO RECIFE-PE.