Naquela Mesa de Bar

Sentado desacreditado à mesa do bar,

Estrategicamente escolhida para impedir que as minhas tristezas

Das vontades e desejos fracassados não se espalhem pelo ambiente,

Disfarço minha carranca melancólica buscando a diversidade com os olhos ébrios.

Encontro distração e afago nas outras mesas: sorrisos, gargalhadas rasgadas, flertes,

Segredos abertos, sentimentos declarados, corações transbordantes, toques delicados por debaixo das mesas, perdões concedidos e condenações aplicadas a réus que nem ao menos sabiam de suas acusações.

À minha frente meu copo e meu cinzeiro enchem-se e esvaziam-se em frenético descontrole.

Ao redor, os céus em forma de nuvens enegrecidas, horripilantes, como que enviadas para o castigo anunciado.

Ventos gélidos começam cessar e o silêncio parece pairar.

Dentro, um vazio corrosivo, ardente, inquieto que perpetua sob a anestesia etílica.

Como se tudo se calasse e passasse a movimentar-se e acontecer de forma lenta,

Fica apenas o eu, e são meus olhos que não vêem o resto e meus ouvidos que ignoram o todo.

Meus sentidos se afloram e sinto um leve calor me tocar na nuca,

Meu copo, meu cinzeiro e eu estendemos nossas formas em translúcidas sombras à mesa.

Tenho forma, tenho contorno e tenho meio.

Às minhas costas, o sol, moleque ligeiro, mostra-se em seu pôr com cores maravilhosamente indescritíveis.

É como se anunciasse a renovação, o renascer, a esperança perdida.

Meu peito enche-se tão rápido quanto as nuvens que corrigem o pequeno desleixo e me retornam à escuridão de mim mesmo.

Não era o fim, mas o meio, um fôlego!

É hora de ir, não me encaixo nesta paisagem.

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