Desabafo

Não mais farei poemas que deliciem almas insólitas

Não mais farei poemas que enalteçam a terra

Que mil homens vingam no desespero

De serem lançados ao sabor do vento

Não mais farei poemas que falem de amor

Não mais a donzela erguerá a flor falsa do amor

Que corre como objeto em incautas mãos

A propagar-se como o fogo, depois só restando cinzas...

Não mais farei poemas que falem de pureza

Não mais sentirão a lágrima brotar do joio triste

Pois toda fonte pura que se mistura, se contamina

E da seiva parva não encherei meus cantis na sede.

Agora só farei poemas da intensa verdade que corre

Não somente em minhas veias,

Existe nos andares bêbados, nos sorrisos tristes,

Na melancolia que o dia traz e na noite chora...

AjAraújo, o poeta humanista.