ESCRAVIDÃO
Escravo da tinta e da escrita
rabisco o tempo passado
Me encravo na palavra dita
Por mim, dito e lembrado
Sem esforço me prendo no tempo
Acorrentado e preso, me sinto
Tento sentir mais sabores do vento
Sorrir, me alegrar, mas eu minto
Tentando, talvez, me iludir
Escrevendo em folhas escuras
Tentando, em vão, descobrir
Palavras mais doces e puras.
Mas me prendo num elo maldito
De aço, de ferro, na alma
E quando me olho, me fito
Escritas... nenhuma me acalma.
Correntes nas mãos do escravo
atoleiro pesado, sem fim
No papel as palavras eu cravo
Palavras, cravadas em mim.