O Nada

Guardo relógios parados

E no silêncio repousa o tic-tac eterno

Guardo calendários antigos

E já desfolhados

Meus dias passam invisíveis

Benditos grilhões metafóricos!

Trago-os sempre comigo

Em segredo

Tento prender-me ao tempo

Ao fechar dos olhos

Vejo o passar dos dias distantes

Latentes, num breve lampejo

A incerteza me congela

Interminável... Suspiro

Temo perder-me no tempo. Só

A ânsia palpitante me remete

À vidas (mal) passadas

E a dor que ancoro ao peito

Tanto aperta que me aporta

Vago neste intrépido mar revolto

Movido ao sabor das dúvidas

Tão salobras

Sem sentido

Vou seguindo

Levado a esmo

Temo por nada

Ser um dia

(Longínquo — Espero)

Ao completar a rota cíclica

E encontrar — triste — certeza:

Nada é tudo

E nada mais é que

O que restou por fim

O que sobrou de mim (?)

Temo por nada