E O MAR VIROU SERTÃO
Sob as bençãos da igreja
e os louvores dos coronéis,
legitimou-se então a República,
devidamente batizada,
com o sangue de Belo Monte
Entre 1896 e 1897, pouco tempo após a queda do regime monárquico
em nosso país, aconteceu no interior da Bahia, um terrível confronto
envolvendo tropas do governo republicano e sertanejos, liderados pelo
então beato Antônio Conselheiro
Este conflito ficou conhecido como "A Guerra de Canudos", e culminou
com o massacre de milhares de pessoas, dentre elas, muitas mulheres
e crianças que foram simplesmente degoladas por soldados do governo
E toda esta barbárie se iniciou, por consequência da enorme miséria
que assolava boa parte do nordeste,e que era ignorada pelo governo,
fazendo com que grande parte da população que vivia na comunidade de Canudos, (depois rebatizada pelos conselheiristas de Belo Monte)vislumbra-se nas palavras de Conselheiro, a salvação contra tamanha pobreza
Sentindo-se ameaçados pelo crescente sentimento de justiça social,
que era ventilado de Belo Monte, e preocupados com a manutenção
de suas terras, os fazendeiros da região, aliados com a igreja, que por
sua vez, também temia a forte influência religiosa que Conselheiro
exercia sobre toda aquela gente, uniram-se ao governo da Bahia e,
posteriormente, ao próprio governo brasileiro, para que fossem então,
tomadas medidas mais drásticas em relação a estes "rebeldes"
A justificativa usada pelo governo para invadir e destruir por completo
Belo Monte, foi a que Antônio Conselheiro, era um inimigo da República,
o que de fato, era uma verdade, porém, apesar da grande resistência
imposta pelos conselheiristas as investidas das forças republicanas,
o que tínhamos verdadeiramente, era uma população infinitamente
inferiorizada frente toda potência bélica do governo, e por esta razão,
apesar de toda a sua valentia, foi cercada, e massacrada de maneira
impiedosa
Por fim, uma questão de ordem social que deveria ter sido resolvida de
maneira pacífica, acabou se transformando numa das maiores barbáries
de que se tem notícia em nosso país
Obs: O então correspondente do jornal "O Estado de São Paulo",
Euclides da Cunha, posteriormente, acabou imortalizando, não apenas
este conflito, como também, a própria situação do povo nordestino
daquela época, em seu celebre livro "Os Sertões"