O JEGUE DO PADRE

Do padre Vieira o jegue

ficou famoso no mundo,

razão de estudo profundo

em que nos dá um esbregue.

Assim, pois, como o que reza,

o cura nos traz lição:

diz que o bicho é nosso irmão,

justo de quem o despreza.

Além da tese travessa

do atual padre Vieira*,

não é conversa de freira,

conto mais, antes que esqueça.

Até o Luiz Gonzaga,

este mago da canção,

ao jumento (nosso irmão),

na voz, concedeu-lhe vaga.

E o povo pensa na linha:

vê no risco pardacento

do cangote do jumento

só xixi de criancinha.

De fato, de pequenino,

ouço história muito forte

de que o jegue foi transporte

que deu fuga ao Deus-Menino.

Dando o bruto leve tombo,

a caminho lá do Egito,

o Pequeno-Grande, aflito,

listrou do jerico o lombo.

Por estes fatos, somente,

já se deduz que o jumento

merece ter monumento,

e bem alto, à nossa mente.

Agora, vejam, metê-lo

num bloco carnavalesco,

isto aí não é grotesco,

mas burrice e desmantelo.

(Março de 1996)

Fort., 1º/09/2009.

(*) “Atual (1996) padre Vieira”, por tratar-se

do sacerdote Antônio Vieira, cearense, au -

tor de diversos livros, entre os quais O JU -

MENTO, NOSSO IRMÃO, e não o seu homôni -

no, clássico seiscentista, do Barroco luso-

brasileiro. Não me ocorre, agora, em qual dos

Estados, no mesmo ano, inventaram de levar

um jumentinho num desfile de carnaval. As -

sim, com base no livro polêmico do padre, eu

quis registrar o fato neste poema-crônica, no

estilo mais para cordel.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 01/09/2009
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