Além-Porta.
De tantas portas uma é a minha
em que abro lentamente o passado
e colho um futuro enraizado de presente
na fotografia escura de um amor
preso com prendedores de roupa.
E vejo-o livre ao vento,
leve e puro como são os verdadeiros.
Dele não há saudade nem inquietude
basta-me sabê-lo menino
em cada volta de meu olhar infantil.
Soletro seu nome em espuma
e sua cor é a estrela que ainda vejo
no céu calado e sério
de minhas torres de pensamentos.
Pobre de mim e do vento,
de prendedores e de varais...
Essa vida que descortino
é um baú de longínquas paisagens
a rondar o infinito de meu ser atordoado.
Fecho a porta com medo do sonho
e ali estão imagens reais,
em que sendo, vejo o corpo, astro rei,
a germinar a janela
de meus delírios pueris.