Além-Porta.

De tantas portas uma é a minha

em que abro lentamente o passado

e colho um futuro enraizado de presente

na fotografia escura de um amor

preso com prendedores de roupa.

E vejo-o livre ao vento,

leve e puro como são os verdadeiros.

Dele não há saudade nem inquietude

basta-me sabê-lo menino

em cada volta de meu olhar infantil.

Soletro seu nome em espuma

e sua cor é a estrela que ainda vejo

no céu calado e sério

de minhas torres de pensamentos.

Pobre de mim e do vento,

de prendedores e de varais...

Essa vida que descortino

é um baú de longínquas paisagens

a rondar o infinito de meu ser atordoado.

Fecho a porta com medo do sonho

e ali estão imagens reais,

em que sendo, vejo o corpo, astro rei,

a germinar a janela

de meus delírios pueris.

Eliane Alcântara
Enviado por Eliane Alcântara em 18/05/2005
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