Insanidade!
(Evandro Luis Mezadri)
Insanidade!
Insanidade!
Insanidade cozinhando no fogo alto da cidade
Fogo exalando de peitos abertos por um terremoto de morte
Anjos infantis sem auréola e à mercê da indigna sorte
Fogo de mil faces fúteis vaidosas
Concretos afugentando rosas
Solitários servos do tempo modelador de artérias entupidas
Arranha céus cuspindo fogo e arranhando o céu
de outroras nuvens alvacentas
Efêmeros espasmos de felicidade
Na freada brusca do semáforo mental,
balas saltitantes nas mãos dos esfomeados retirantes
Ondas lancinantes em asfaltos de oceanos lacrimejantes
Insanidade!
Insanidade!
Pessoas cruzando...
Cruzando nas calçadas empesteadas de crias não alfabetizadas
Moribundos desnudos e imundos
Automóveis rasgando obstáculos humanos
Vento frio em calorosos submundos nefandos
Marias aditivadas de gasolina prostituída
chupando a alma enfeitiçada e destruída
de porcos castrados de auto-estima verossimilmente poluída
Risos raros
Altruísmos caros
Pastores olhando para o céu
e jorrando a hipocrisia santa ao léu
Ternos modernos seqüestram inocentes subalternos
Vem Senhor!!!
Vem Senhor!!!
Vem Senhor!!!
Soltam o brado feroz,
Laçam a amarra que prende o povo
para que não voem como um albatroz
Libertam os fiéis da aberta alcatraz?
Clamam uma utópica e órfã paz?
Blindam de discursos baratos os soldados insensatos
Insanidade!
Insanidade!
Penumbra no futuro
Intransponível muro
Correria!
Insanidade!
Correria!
Insanidade!
Rastejando pelas sarjetas diárias
Observando as medievais odisséias
de sobrevivência incendiária
Esticando a máscara de palhaço ofertada
E os neurônios ramificados em floresta mental devastada
E a prece de calmaria solicitada
é escuramente e insanamente refutada
na lança que dança no coração em prantos do devaneio
reproduzido no espelho estilhaçado da alma cansada
Um rádio imaginário toca nos tímpanos surdos
e o despertar já não mostra-se mais belo
ao observar o triste sol
nesses contemporâneos amanheceres de absurdos
Lunático
(Evandro Luis Mezadri)
Parte o lunático...
Vestido pela íntima solidão
Duelando com as sombras do passado
Ruas são labirintos de fogo
aquecidas por cobertores de ossos
Árvores são testemunhas
e suas folhas espiãs
brincando entre os galhos
da madrugada
Morcegos voam
entre rasantes tentativas de alegria
Cães ladram
a fome angustiada dos mal-nascidos
Gatos esquartejados nas autovias
e seus cérebros pisoteados
pelos carros rumo ao sul
Parte o lunático...
O riso mórbido como guia
Abre-se uma fenda na abóbada
Raios selvagens estupram
as estrelas donzelas
e elas derramam pelas nuvens
lágrimas vermelhas
Como o gozo de um vinho barato
sobre o solo poeirento da cidade
Parte o lunático...
Em sua hipnótica caravela
Velejando pelos prolíferos mares
da loucura
A lua a beijá-lo
Uma tempestade de anseios
derramada em pernas e seios
entrelaçando as veias pulsantes dos desejos
Filho do deleite
Em uma colheita
de douradas novidades
Caminhando pelos campos antes inóspitos
A música refletindo
o erótico flerte
da vida com a morte
Espasmo
Açoite
Finda mais uma luxuriosa noite
ao ser atravessada
pela espada flamante
do divino crepúsculo
E o lunático retorna...
ao seu frio reino de tijolos à vista
Pedindo em seus credos de arremedo
para a alma uma benção
e para o corpo um esteio
quando a amante embriaguez se foi
e a esposa ressaca veio!
Odor da memória..
.(Evandro Luis Mezadri)
É infindo e harmonioso o canto da caserna
A despertar vívidos girassóis em seus vergéis
Lá de cima, o sol regando a relva com sua luzerna
Nas prateadas paredes, os uniformes verdes vestem os tropéis
Sonhador soldado de coração armado
Desbravando terras em púrpuras batalhas
Segue adiante e no errante caminho adornado
dos jovens ossos repousando no leito das migalhas
E de um antagônico brado foi anunciado o aleivoso destino
Mostrou-se em sua fronte o pranto puro de um menino
Mãos adormecidas sobre o peito estilhaçado
O corpo ensangüentado banhado em lírios
Odor da história despedaçando a memória de seus delírios
Filho da guerra, viraste semente da terra, em seu branco jazigo
*Meu nome é Evandro Luis Mezadri e nasci em Votorantim, SP no dia 28.07.1976.
Participo dos grupos Sociedade dos Poetas Vivos de Votorantim e Coesão Poética de Sorocaba.
Em Fevereiro desse ano, realizei o lançamento do meu primeiro livro de poesias intitulado "Lunático".
Gosto de poetas como Rimbaud, Baudelaire, Jim Morrison, Paulo Leminski, Allen Ginsberg, entre outros.
Participei de saraus em Votorantim, Sorocaba, Itu e São Paulo.
ACESSE:
www.encontrodepoetasemsalto.com
www.amigafmsalto.com.br