SUBTERFÚGIOS - Oitava parte

 
Uma criança
Aprendendo a ser
É
O que eu
Não consigo ser.
Não há nada que seja
Daquilo que já sou
Que, se a alma deseja,
Por não o ser, já passou.
Uma flauta vaga entre as estrelas.
Há na noite uma beleza
Eu só me cabe cantar
Cantando.
 
Não tenho mais gratidões:
Conservo apenas algumas,
Perdidas em um tempo
Que eu nem sei mais
Se ainda é meu . . .
Hoje que tudo jaz santificado
E eu resto vivo, insepulto,
Estarei mais certo? Mais culto?
Mais próximo de Deus?
A vida é a luta
Entre a Vida e a Morte;
E a morte em si
É a absolvição da Morte em geral.
A que cogitar a Morte,
Nós que não deciframos a Vida?
 
A vida é o meu dia
Impensado de todos os dias,
Longe da “Mater Nutritia”.
Nostalgias, nostalgias,
E vivo a esperança
Do porvir em meu filho,
Meu sol, meu brilho.
 
Eu quisera encontrar-te!
Volto, mais uma vez, ao quarto,
Tiro os sapatos,
Planto-me descalço ao chão,
Que os sapatos sempre apertam
Quando não vai bem o coração.
Não há chance entre mim e a cama;
Deito-me e me desfaço,
Que a coerência está presa
A outro profundo drama
De plenitude sem espaço.
 
Como choquei-me ao ver,
Primeira vez,
O meu pai perdido na multidão,
Tão igual a todas as gentes,
Tão sem mágica, tão sem mística,
Tão sem máscara, tão sem voz.
 
A raiva é um veneno
Que vai ficando no coração;
Fá-lo doer e ele,
De repente, já não pulsa.
Começa a queimar-me
Um fogo que já não arde;
Algo repentino de alarme
Em qualquer algo de alarde;
O afã de tocar-me,
Mas já meio tarde.
Sinto-me queimar
Como se queimam fotografias.



Desejo um bom final de semana ao querido leitor.  Rafael Teubner