CARRASCO ALADO

Voa alto, garganta aberta, agressivo,

de bárbaros costumes, forte seu eco ressoa;

caçoa dos ermos felizes,

de castos vernizes tingidos de verde.

Na proa gira a cratera cubando o alvo

e do alto das nuvens despenca

penteando encrencas na funda planície.

A boca suja de sangue e de morte embebida

na própria ferida da terra inerme, mordida de guerra, sem armas.

E o carrasco era o lobo e o lobo era o cão,

o Catarina malvado chamado tufão.

... e o corcel sem asas, alucinado voando,

mascava o freio babado de fogo e sangue,

levando às gentes do mangue as dores caiçaras.

de mar alto a onda gigante seu peito estufa,

esbraveja e bufa seu poder de triste memória;

arremete com fúria e devasta a natureza,

desova tristezas escrevendo a história.

Da alma vegetal in natura os elementos

são arrancados na base e jogados ao alto;

gravetos ápteros dançam nas nuvens ao sopro da flauta do vento;

a natureza viva silencia suas vozes,

se esconde no mato à proximidade da fera.

E a fera era o lobo e o lobo era o cão

o Catarina malvado chamado tufão.

Vejo o vento fragmentando a maresia

a areia da praia esfarela a brisa;

árvores, inda verdes as folhas,

levitam qual rolha nas frestas do ar .

E a boca do lobo nas costas do mundo

crava bem fundo os dentes da morte;

e o vento verseja atrozes vertigens

nas próprias origens da paz o do amor.

Infensos os velhos e orvalham meninos o buço

e a terra soluça o pranto do medo;

as casas quebram joelhos e se debruçam,

dobram os sinos e choram nos lares feridos e mortos;

... o carrasco alado sem asas sua fome sacia:

devora a savana e cospe ondas de areia na encosta da serra.

E o vento era o lobo e o lobo era o cão

o Catarina malvado chamado tufão

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 26/08/2009
Código do texto: T1775136
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