Entrelinhas

Entrelinhas

maria da graça almeida

Entregue-se ao solo do destino

e ao colo da poesia paraíso;

não fique à margem do caminho,

nem desbrave a terra do sozinho.

Molde o verso em redondilha,

com o cuidado de um santo,

pudores, recato e canto,

véus, capas e cantigas,

na mudez do doce segredo

de um recôndito desejo.

Faça do poema um verbo silente

e apenas o sustente,

provando-o com jeito,

posto que o pecado é um defeito

que todos os anjos têm medo.

Deixe-o renascer -num suave pranto,

sem testemunhas, com manto-

de um soluço de doçura,

que o sossegue da sua sede

de carinho e ternura.

Faça da palavra de candura

um tapete de suspiros,

onde cada amargura

adormeça sem gemidos,

e sem o insano perigo

que impõe toda procura.

maria da graça almeida

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 18/05/2005
Reeditado em 18/05/2005
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