POROS, POEIRAS, PORÕES



Tudo o que construí foi juntando poeiras:
Poeiras dos pensamentos,
Dos caminhos percorridos,
Poeira de tudo o que disse e ouvi,
De tudo o que fiz e fingi.

Poeira de poemas.

E depois, copos de ânsia e ânimo
Copos de amargor para a argamassa
Copos de mágoa para o amálgama
Copos de absinto do que sinto:
Quantos copos de angústias bebi!

E mais, e mais, e mais
Imateriais de construção:

Pás de juízo – piso
Latas de fomes e sedes – paredes
Metros de trilhas tortas – portas
Sacas de querelas – janelas
Quilos de intrigas – vigas
Vácuos, vazios, nadas e lacunas – colunas
Catracas, barreiras e vetos – tetos
Metros quadrados de sonhos frustrados – telhados
Carrinhos de mão de tédio oco – reboco
Carrinhos de mão de nãos – vãos
Gotas de loucura – pintura
Carinhos de mãos – demãos

E depois de tudo pronto
Do sonho à edificação
De mais, de mais, demais
Imateriais de desconstrução

Tudo o que fiz, e onde vivo,
É pura poeira – é porão.


Oldney Lopes©