RECADO

Fecho os olhos, assisto ao desfile das lembranças guardadas
em envelopes de abandono... Ah... quanta melancolia, quanta mágoa!
Leio e releio todos os teus recados quase rasgados, desbotados
pelo tempo que passou silencioso, dolorido, atroz e tão rápido...
 
Deixo tuas palavras caminharem através da minha alma...
Sinto a angústia das feridas sangrando no meu peito que hoje chora.
Meus pensamentos voam em busca dos teus lábios que se fecharam,
em busca das tuas mãos que atrofiaram... nunca mais recebi um só recado...
 
Quem dera eu pudesse voltar a vida toda no espaço
para não mais oscilar entre o sim e o não, entre o certo e o errado.
Quem dera em tempo eu tivesse lido todos os teus recados
e, sem receio, sem cisma, apaixonada, ter me atirado louca em teus braços... 
 
Quem dera tuas mãos de carícias deslizassem sobre o meu corpo, 
apagando as tuas palavras, os teus pedidos de encontro, sempre por mim adiados,
que ficaram cravados, parados no calendário dos dias que matam a vida.
Quem dera hoje eu recebesse os teus recados machucados de amor.
 
Mas agora se faz tarde, agora os caminhos morrem em mim,
 agora de nada adiantam o alarde, o arrependimento, a dor.
Só ficou mesmo esta saudade doendo, corroendo sem fim. 
Os dias de esperança vão evaporando... episódio avassalador. 

Quem dera eu recebesse apenas um recado,
para abrandar, serenar este haste de amor...
 
Sandra Lúcia Ceccon Perazzo
(Speazzo)
28/07/2009