Silêncio
Dez horas da manhã e aqui estou
Sentado numa sala
Rodeado por tantos imbecis
Que até me afoga o bom senso
Já que, por estar aqui, talvez me faça a parte
E a honra...
De me socializar.
Ah, como me dói esticar as pernas
Ou olhar dum canto do olho
Dói-me o não-encanto
Dói-me até mesmo o trabalho de me queixar
Já que, hoje em dia, não há ressaca que me permita a desconcentração
Ou que possa derrubar-me o ego
Para eu, pelo menos, me aliviar...
Num único vômito.
Hoje nem mesmo há dor que me faça fraquejar
E, então, me calo e escrevo!
Escrevo aqui, ali, acolá...
E, claro, resmungo como que só para mim
Acabo por desejar tão pouco
Só um cigarro... aliás, menos!
Um trago, meio trago, um terço de um, que seja!
Porque eu, com todos estes imbecis por perto
Só posso isso desejar...
Apesar de parabenizá-los por ao menos agora
Estarem calados...
(Por ordem do dia, que logo o diga)
Mas no mínimo me conforta que se pouco escute quem deveria se calar.
Mas eis que me vem essa maldita mosca...
Para roubar-me o silêncio
E tudo bem que qualquer zumbido seja um tanto mais sábio que meia palavra dos imbecis...
Mas o silêncio é precioso
E é aí que me acabo por desejar só um trago
Porque silêncio hoje em dia é luxo demais.