Silêncio

Dez horas da manhã e aqui estou

Sentado numa sala

Rodeado por tantos imbecis

Que até me afoga o bom senso

Já que, por estar aqui, talvez me faça a parte

E a honra...

De me socializar.

Ah, como me dói esticar as pernas

Ou olhar dum canto do olho

Dói-me o não-encanto

Dói-me até mesmo o trabalho de me queixar

Já que, hoje em dia, não há ressaca que me permita a desconcentração

Ou que possa derrubar-me o ego

Para eu, pelo menos, me aliviar...

Num único vômito.

Hoje nem mesmo há dor que me faça fraquejar

E, então, me calo e escrevo!

Escrevo aqui, ali, acolá...

E, claro, resmungo como que só para mim

Acabo por desejar tão pouco

Só um cigarro... aliás, menos!

Um trago, meio trago, um terço de um, que seja!

Porque eu, com todos estes imbecis por perto

Só posso isso desejar...

Apesar de parabenizá-los por ao menos agora

Estarem calados...

(Por ordem do dia, que logo o diga)

Mas no mínimo me conforta que se pouco escute quem deveria se calar.

Mas eis que me vem essa maldita mosca...

Para roubar-me o silêncio

E tudo bem que qualquer zumbido seja um tanto mais sábio que meia palavra dos imbecis...

Mas o silêncio é precioso

E é aí que me acabo por desejar só um trago

Porque silêncio hoje em dia é luxo demais.

Éden
Enviado por Éden em 23/08/2009
Reeditado em 06/02/2010
Código do texto: T1770283