Intimamente debochado

Sofro a maldição de litorais escarpados onde as praias são inúteis

Onde a água bate forte contra as pedras e espalha sua bruma pelo vento

Onde o sol não chega nunca e nem há folhas espalhadas entre as rochas

Onde não há borboletas

Sofro do mal de quem não cabe em si

E nunca coube em si, não propriamente pelo orgulho

Mas sim porque metricamente não houve espaço

Para comportar tudo de bom e ruim.

Padeço da doença dos de bom coração e mau aspecto

Como suponho que sejam as lhamas, os rinocerontes

E todo tipo de mamíferos que fazem mal às vezes,

Com exceção dos morcegos, dos quais desconfio.

Sofro da dor de todo homem de palanque

E de todo homem de escritório

O que me faz a soma dos males humanos

Potencializados por ser poeta

Fere-me a falta de perspectiva de quem sabe fazer toda e qualquer coisa

E absolutamente nada.

De quem chora a seco, ri sem vontade, mente falando a verdade

E reza e não sabe pra quem

Sofro da enfermidade de quem quer dizer tudo e não fala nada

Ou de quem inventa personagens

Para escrever em poemas sobre eu mesmo

Sendo que não sei quem sou.

Sofro do mal da irritação, do mal do amor excessivo e nulo

Da felicidade contínua, da tristeza repentina,

Da contigüidade distante, da ausência presente

Sofro do mal de mim. Seja eu quem for.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 22/08/2009
Código do texto: T1768430