Intimamente debochado
Sofro a maldição de litorais escarpados onde as praias são inúteis
Onde a água bate forte contra as pedras e espalha sua bruma pelo vento
Onde o sol não chega nunca e nem há folhas espalhadas entre as rochas
Onde não há borboletas
Sofro do mal de quem não cabe em si
E nunca coube em si, não propriamente pelo orgulho
Mas sim porque metricamente não houve espaço
Para comportar tudo de bom e ruim.
Padeço da doença dos de bom coração e mau aspecto
Como suponho que sejam as lhamas, os rinocerontes
E todo tipo de mamíferos que fazem mal às vezes,
Com exceção dos morcegos, dos quais desconfio.
Sofro da dor de todo homem de palanque
E de todo homem de escritório
O que me faz a soma dos males humanos
Potencializados por ser poeta
Fere-me a falta de perspectiva de quem sabe fazer toda e qualquer coisa
E absolutamente nada.
De quem chora a seco, ri sem vontade, mente falando a verdade
E reza e não sabe pra quem
Sofro da enfermidade de quem quer dizer tudo e não fala nada
Ou de quem inventa personagens
Para escrever em poemas sobre eu mesmo
Sendo que não sei quem sou.
Sofro do mal da irritação, do mal do amor excessivo e nulo
Da felicidade contínua, da tristeza repentina,
Da contigüidade distante, da ausência presente
Sofro do mal de mim. Seja eu quem for.