O vento e etc.
Ventava…
ventava muito naquela madrugada
e olhos me seguiam pelas ruas.
Era noite de brumas
e das esquinas surgiam as árvores,
ariscas, lançando seus longos dedos sobre o asfalto.
Em seu longo vestido preto, a bruxa seguia.
Lá ia ela com seus olhos de gato,
mudavam de cor, aumentavam, diminuíam.
As ruas desertas se abriam em estradas,
enormes, gigantes, infindas,
que só Inês podia ver.
Rodopiava, as mãos estendidas,
sumia ao longe nas brumas,
aos olhos transparentes de Saulo.
De linda menina passava a forte mulher;
e onde estariam os demais?
Atrás de si, onde os passos firmavam-se,
cirandas de sílfides e gatos passando.
Legião de criaturas amigas,
gatos com seus olhos de obscuridade sagrada,
de passos felinos atrás de Inês.
Ventava muito naquela hora,
soprava os cabelos curtos da Inês menina.
E nos passos de Inês,
ignorando as dríades maliciosas
e afastando as sílfides de sua roda,
nos passos de Inês
Saulo pisava.
Até que a luz dissolve os passos;
cortados pelo vento, os pingos de chuva
desmaiam sobre a montanha.
No alto da estrada a montanha se faz
e transparentes os olhos que a estrada perdem...
Por séculos e séculos, a estrada se renova,
nova e indistinta que os passos sustentam.
Através dos séculos, Saulo e Inês se encontram,
que a missão é maior que se imagine;
sem saber, só se sabe ser. É...