SUBTERFÚGIOS - SÉTIMA PARTE

De onde sabem
Os meus sonhos de tanta vida,
Se nunca foram vividos?
O meu eu materno
Acolhe o meu ser cansado.
O guerreiro Espírito, ao lado,
Voluteia, ajeita os seus lauréis;
E Psique pare a serpente
Descomunal,
Lenta, lentamente,
Assim . . .
Com uma dor infinda
E um leve arfar de asas.
 
Físico ou metafísico,
Esse tempo transcorrendo?
 
Leve, sensível, suave,
Há em teu olhar
Qualquer coisa de ave
Em pleno voar.
 
O poeta é um apaixonado
Da vida, da poesia,
Ainda que seus versos
Reflitam pura agonia,
O esforço imérito de viver.
Descrever o momento poético?
É o mesmo que descrever
Uma borrasca em alto mar
Em plena borrasca
Em alto mar . . .
 
Eu dizia sempre
Ao meu pequenino amigo:
Pega a tua raiva,
Embrulha-a, guarda-a no bolso,
Não a jogues fora.
Sim, guarda-a!
Um dia precisarás dela.
Ah! Faz o mesmo com o teu medo.
Alto Ser me preside,
Sentimentos primitivos me concedo.
Meu pequenino, o mundo
É cheio de monstros;
A vida é cheia de heróis,
De fantasmas, de perigos:
Aprende a duvidar deles.
O movimento vence
A sombra da Terra
E nada sustenta o real
Mais que o quimérico.
 
O fascínio é como não querer
Acordar uma criança que dorme;
É não querer tocar no mistério
Para não romper o mistério.
Nunca pensei que a loucura
Fosse tanta delícia,
Que o Diabo fosse bom sujeito.
Ensinarei a meu filho, então,
Como se gosta da vida,
Vou pensando.