A Vida em Ciclos

No início era só terra

Útero de bulbo

Que aos poucos rompeu casca

e brotou em caule verde

Caule forte e determinado

pôs-se rumo ao céu

Trazia na ponta um botão de promessa

Promessa de flor

Deste botão, despontaram outros

Que escorregaram para além do manto verde

e revelaram-se compridos e fechados

fitando cada qual para um lado

Flores abraçadas em si mesmas

Ousavam expandir-se

Então...

Espreguiçaram-se as pétalas

Uma a uma, pouco a pouco

Ao abrirem-se completas,

Pareciam sorrir

Brilhavam

Plenas de si

Assim fitavam o mundo

Ao nascer a última flor,

Pôs-se a morrer a primeira

Sua pele ressecava,

fina e enrugada

Sua cor escurecia

Assim foram em seqüência,

Uma a uma

Pouco a pouco

Até que estavam todas secas

retorcidas,

apagadas

Pétalas finas e enrugadas

Deixavam o mundo

Recolhidas em si

E nós... as fitávamos

Durante todo o percurso

Reconhecendo na natureza

a certeza dos ciclos.