Carta de suicídio nº. 01

Não tenho fundamento onde apoiar-me.

Onde estás tu, chão frio e indiferente, sólido fundamento que me recolhia os fragmentos

e impedia a mim de me dispersar?

Não tenho a ti, nem a mim: nada tenho!

Que me impede, agora, fragmentário que sou, de esvair-me,

de desfazer-me?

E de permitir que suave lâmina extinga a vida enfadonha,

em torrentes vermelhas,

longa e densamente purpúreas?

Que recompensas promete a vida para que eu a conserve...

Ou que tormentos me trará a morte para que eu a tema?

Mas sequer me respondes e se me afiguras

como um espelho que reflete minha imagem desfeita...

E, interrogado-te, em lúgubre monólogo sucumbo!

Oh! que não desponte a aurora!

Não, não quero que a luz me varra a alma desolada...

E que a noite, mãe dos suicidas incógnitos,

em cujas teias sombrias deposito a vida, receba esta última carta

e a semeie ao vento,

para que de mim não restem nem mesmo estas confidências merencórias!

Alan Oliveira
Enviado por Alan Oliveira em 20/08/2009
Código do texto: T1765241
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