As Nuvens do Sol
Pássaros, ó pássaros.
Aonde vão que não conheço?
Pois para mim é desejo
me encontrar entre vós.
Mar, ó mar.
Deixa em ti eu velejar
até um dia encontrar
para mim um novo lar.
Luz, ó luz.
Eu te peço me conduz.
Para sempre eu amar
e não pensar em voltar,
mas pensar sempre em chegar.
Estrela, ó estrela.
Não escondas sua beleza
e faça com que eu a tenha
toda vez que quiser vê-la.
Vento, ó vento.
Não me leve a velhos tempos,
nem me traga os novos tempos.
Pois tudo que em mim está sendo
não passa do que estou vendo.
Você, ó você.
Não me faças compreender
por que quero a ti amar.
Deixa só a mim chegar
todo amor que puder dar.
Homem, ó homem.
Não deixes em tua casa
uma só janela fechada.
Para que possa ver, como eu,
o pôr-do-sol que também é teu.
Como é tua a minha luz..
Deus, ó Deus.
Sei onde estás,
pois eu te ouço.
E peço o teu consolo
para poder continuar
a querer a ti chegar.
Para poder sempre tentar
querer a ti amar.
Nuvem, ó nuvem.
Eu sei que tu conduzes
tudo o que estou a pensar.
E te peço, não deixes parar.
Para que eu possa falar
que meu amor nunca vai esgotar.
Sol, ó sol.
Concede-me sempre este momento
de tê-lo como sendo
um lindo vôo para sonhar.
1975
Janela do apartamento na Avenida Guapira – São Paulo ,
de onde assisti inúmeros pores-do-sol na Serra da Cantareira
e virei poeta.