VELÓRIO COR DE ROSA

Não conheço mais a vida,

Nem sei o que é morte...

Meu pulso, pulsa!

Meu corpo não passa de um transeunte solitário!

Não falo de amor.

Deste que também nos sangra...

Mas não falo de amor!

Nem sei o que é morte?

Mas será que as almas se digladiam?

As almas existem?

Será que a morte é uma guerra tal qual a vida?

Em vida há muita gente morta!

Por onde passo, acendo velas,

Rezo missas, mas não choro nem um pouco!

Acordei e ao meu redor havia velas e flores!

Também ninguém chorara!

O corpo de alguém é o velório de um vivo.

Um velório não contém almas:

Um morto corpo e vários corpos vivos

Felizes pois não suportam lágrimas.

A vida é um cemitério de ambulantes,

A cabeça, um necrotério...

O desejo é o que mata.

Não a nós, a vós!

Não o suicídio, homicídio!

Os vivos são mortos que se movem!

Espero que a morte tenha um pouco mais de graça,

Que almas não sejam loucas, desgraça!

E pensar que na minha morte

Quem se fartará apenas serão as minhocas!

Que os túmulos sejam calmos,

Pois o eclipse da vida é revolto:

Enquanto a lua contempla-nos,

O sol a nós é luz,

O mar engole-nos,

O ar nos conduz:

A terra... a terra come-nos,

Nosso corpo vira pus!

Enquanto o céu nos espelha,

A mata nos dá mato sem matar:

Nós, ensanguentamo-nos!