O tempo

O que é o tempo senão nada?

Parece ser somente mais uma abstração

Como se dá essa dúbia relação?

Algo que nem se percebe passando

E ao mesmo tempo vai nos marcando

Essas profundas e irremediáveis

O Tempo por ser inapalpável

Não o podemos controlar, não é viável

Mas é tão denso que o sentimos a todo instante

Agora mesmo já ví que ele não é como antes

Levanto a pena e a abaixo novamente

O tempo passou e eu o perdi?

Para mim foi-se para sempre?

Mas não foi desperdiçado, pois escrevi

Como o poeta dos escravos pediu

E neste pouco se cumpriu

Isso que fiz me suplantará

Eu sei que o meu logo acabará

Mas o que escrever e conseguir deixar

Nunca mais o tempo irá matar?

Até este “nunca mais” é relativo

Pois o tempo do qual falo é ativo

Como disse o poeta dos poetas

Toda materia acaba, até das almas diletas

Mas o que eu escrever sobreviverá

Pelo tempo que o próprio tempo permitirá

Pode até ser por tempo algum, quem sabe?

Mas até para saber isso é necessário que acabe

Tempo de começar, tempo, também, de acabar

Tempo, esse que parece querer nosso finar

Parece nosso carrasco, mas é também amigo

Na verdade meu tempo sou eu mesmo que traço

Se o desperdiço, perco muito com isso que faço

Preciso ansiosamente dele também para viver

Mas principalmente, quero tempo para escrever

Só não preciso de tempo para morrer neste mundo

Pois ele há muito faz isso comigo, a cada segundo.

Brasília - DF, 05 de junho de 2009.