AH, SE FOSSE ASSIM...

Tento escutar, escuto como se fosse um grito,

esse sentimento represado no abandono

com que nos entregamos a cada dia que começa.

( quantos já matamos a tiros, à bruta, desnecessariamente,

desses fins de noite que são, afinal,

apenas promessas de novas manhãs...?)

Mas apenas os passos ficam mais audíveis,

nisso que podiam ser carícias mas são apenas solas

conformando-se à pedra áspera do momento.

Nelas houvesse o encanto, que deve compor as manhãs,

e não aquele esfarelar de tempo cru,

por entre dedos descuidados...

Nelas se dissesse baixinho, quase só com a mente,

uma prece agradecendo o cheiro do pão,

e os risos nos olhos, antes de rir.

Nelas as pedras não esquecessem,

afastadas do pó,

as memórias dos caminhos...

Agosto de 2009

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 17/08/2009
Reeditado em 23/10/2009
Código do texto: T1758871
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