Sem nome nº. 02

Quando eu morrer então nunca terei nascido e vivido: a morte apaga os traços de espuma do mar na areia (Clarice Lispector, Água Viva).

Vejo o café derramado...

Tu te parecias, oh minh'alma, com o café vertido em negras torrentes,

densamente concentrado, e disperso em si mesmo.

Tu, integrada em minha existência,

eras como sombria mancha no chão.

E agora... de sentir a tua ausência mais sutil,

tua distância que não consigo mensurar,

sinto também o corpo mais vazio,

mais corpóreo,

insuportavelmente pesado de tanta corporeidade.

Tu, enfim, partes (para onde?),

deixando-me, em forma de matéria inerme, um corpo mais meu

e lembranças que o tempo aniquilar não pôde

(e que a matéria gaurda como urna espessa e inviolável)...

Bendita a alma, cujo afastamento liberta o corpo para sempre

da vida desfeita!

Alan Oliveira
Enviado por Alan Oliveira em 17/08/2009
Código do texto: T1758843
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