Sem nome nº. 02
Quando eu morrer então nunca terei nascido e vivido: a morte apaga os traços de espuma do mar na areia (Clarice Lispector, Água Viva).
Vejo o café derramado...
Tu te parecias, oh minh'alma, com o café vertido em negras torrentes,
densamente concentrado, e disperso em si mesmo.
Tu, integrada em minha existência,
eras como sombria mancha no chão.
E agora... de sentir a tua ausência mais sutil,
tua distância que não consigo mensurar,
sinto também o corpo mais vazio,
mais corpóreo,
insuportavelmente pesado de tanta corporeidade.
Tu, enfim, partes (para onde?),
deixando-me, em forma de matéria inerme, um corpo mais meu
e lembranças que o tempo aniquilar não pôde
(e que a matéria gaurda como urna espessa e inviolável)...
Bendita a alma, cujo afastamento liberta o corpo para sempre
da vida desfeita!