Sem nome nº. 01
Peço-te que me concedas um pouco do teu tempo...
Oh!, por favor, rogo-te apenas isto - e nada a mais:
que compartilhes comigo alguns grãos da ampulheta voraz que te paira por sobre a cabeça...
Em troca, dar-te-ei, generosa e pacificamente, muitos dos grãos
de minha própria ampulheta,
antes que me invada o não-tempo.
Dar-te-ei, se quiseres
- e não precisas sequer formular teu desejo em clara rogativa, como faço -,
todo o meu tempo.
Ei-lo: monte efêmero de areia a me escapar das mãos...
(e mesmo quando as mãos me estiverem vazias, continuarei a ostentá-las
erguidas, em doação inesgotável).
Faço-o porque não me entendo sem ti,
e não suporto a tua mais momentânea ausência...
Porque és meu respiro e meu sentido,
a referência a que recorro para que o próprio tempo não se me afigure
como movimento atroz e sem norte...
Porque és a ampulheta e a areia...
e o tempo e tudo!